quinta-feira, 4 de julho de 2013

O último espetáculo

Os olhos que me pregou só não foram mais marcantes que as palavras que saltaram com dificuldade de sua boca. Lembro-me daquelas palavras como se tivessem acabado de me dizer, tamanha foi a impressão que causaram ao serem ditas pela voz rouca do homem que definhava, havia dias, no leito de meu hospital. Reproduzo-as, pois, sem mais delongas.

“Podem os rins figurar-me a morte, doutor, mas não protagonizam essa cena. Morrer é certo, mas não deixarei a vida do jeito que sua respeitosa medicina indica. Morrerei do coração, dos amores perdidos, das aventuras não vividas, dos amigos que vi partir sem nada poder fazer. Isso, doutor, não se explica por laudos ou pareceres. Somente este falho órgão decide a hora de parar, quando já não lhe cabem escolhas, quando já lhe esgotaram todas as esperanças do amor e, assim, já não vale a pena viver.”

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