Outros já diziam, bem antes de
mim, que não se faz um ser humano só daquilo que lhe chamam corpo; vai além de
células, tecidos, órgãos e sistemas; recai tamanha complexidade sobre o
indizível, o inexplicável, num vão sobre o qual trovejam e se arrastam
argumentos de farinha. Alguns se fazem em imagem, melodia, sensações. Eu mesmo,
por exemplo, me faço em palavras.
Desenhei na pré-escola os
encantos da infância, lamentei os amigos perdidos em metáforas, aliterei o som
do córrego que corta o meu terreno. Rimei em verso e prosa as riquezas do meu
sítio, deslumbrei, adjetivando, a cidade de concreto. Suspirei os amores
perdidos e dei forma incerta aos que ainda viriam. Esculpi, palavra a palavra,
o futuro que anseio. Dissertei futilidades, gastei latim, rabisquei bilhetes às
pressas, carteei meus sentimentos. Organizei ideias, produzi e descartei,
pensei e me arrependi de não produzir.
Fiz do meu coração tinta sobre o
papel. Gravei-me na eternidade.
Um dia irei. Os relatos ficarão.
Haverá três de mim: um que apodrece, roído pelos vermes; outro, que se eleva, que
vive eterno em outra terra; e ainda um terceiro, imortalizado também neste
mundo pelo seu coração de tinta.
Amigo, você é tudo de bom. Muita sorte nessa nova fase. Beijos
ResponderExcluirComeçou bem!
ResponderExcluirMuito obrigado, Jaque! Te espero mais vezes por aqui.
ResponderExcluirObrigado, Angelo! Agora é persistir assim. Conto com suas visitas e seus comentários.
ResponderExcluirMuito bom o texto...deu vontade de escrever, pena que eu não tenho esse Dom! Abraços.
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